segunda-feira, 16 de abril de 2012

Saúde pública: pontos centrais

No percurso deste ano, a Campanha da Fraternidade vai deixando algumas referências bem claras que constituem critérios básicos para iluminar o conjunto da problemática da saúde pública. A primeira destas referências se expressa na proposta da universalidade no atendimento à saúde. Os serviços de saúde precisam ser pensados em função de todos os cidadãos.

Todos têm direito ao sistema público de saúde. Esta é a ideia básica, subjacente ao SUS. Para definir um sistema justo de saúde é preciso pensá-lo em função de toda a sociedade. A saúde é tão importante, que não é possível uma pessoa se sentir membro da sociedade, com direitos de cidadania, se não conta com a segurança dos serviços públicos de saúde.

Esta primeira referência, do direito universal ao sistema público de saúde, fundamenta a segunda, que se refere aos recursos financeiros, que precisam ser destinados pelo Estado em favor do sistema público de saúde.


Se o direito é tão evidente e fundamental, ele requer condições mínimas indispensáveis para o seu atendimento. Ele não pode ser frustrado por falta de recursos financeiros. A consistência do direito postula a garantia de recursos. Mas este capítulo dos recursos inclui uma advertência muito oportuna e muito realista. Não basta o Estado colocar recursos à disposição do sistema de saúde pública. Estes recursos precisam ser bem repartidos, bem aplicados, com critérios que levem em conta a diversidade de serviços prestados por tantas pessoas ligadas ao sistema, como os profissionais da saúde, com sua diversidade de funções. Além disto, é preciso ter presente a indispensável atualização dos equipamentos, a conservação e melhoria dos prédios, sempre em vista de oferecer melhores condições da prestação de serviços em favor da saúde pública.

Com esta realidade pela frente, podemos fazer ideia da necessidade de recursos que deveriam ser colocados à disposição da saúde pública pelo Estado e, também, por beneméritas instituições da sociedade que assumem a causa da saúde.
Estes dois pontos centrais, a universalidade de atendimento e a destinação adequada de recursos, ficarão incompletos se não chegarmos a outro ponto indispensável. Trata-se da humanização de todo o sistema de saúde pública.


O que transforma o ambiente de um hospital, pequeno ou grande, ou de um posto de saúde, na periferia ou no centro, é a maneira como os pacientes são acolhidos e tratados. Muitas vezes o melhor remédio é a acolhida carinhosa que o paciente recebe.

Sem a humanização do sistema de saúde, a doença será sempre um pesadelo, e o hospital um espantalho. Com um pouco de humanidade no relacionamento com o doente e seus familiares, o ambiente se transforma e se enriquece de sentimentos positivos, que acabam sendo a parte mais importante de todo o receituário.

No capítulo da humanização do sistema de saúde, também entram os recursos. Porém de outra ordem. São recursos que enobrecem as pessoas, seja pelo serviço que prestam, como profissionais ou voluntários, seja pelo apoio efetivo à causa da saúde ou pelo conforto dado aos pacientes; mas dado também aos profissionais da saúde e a todos os que assumem a causa da saúde, colaborando no que lhes é possível.

A saúde é tão importante que sua causa envolve todos nós. Quanto mais esta causa for assumida, mais garantias teremos de melhorar nosso sistema público de saúdede.

Dom Demétrio Valentini
bispo de Jales (SP) e presidente da Cáritas Brasileira

Jornal Opinião Online
Edição 1189 - 26 de março a 01 de abril de 2012


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