segunda-feira, 1 de outubro de 2012


Sofrer as demoras de Deus e seus silêncios

Jesus é o Filho Amado do Pai. A quem mais o Senhor ajudaria, a quem mais defenderia senão Seu próprio Filho? No entanto, o vemos coberto pela maldade do mundo. Vemo-lo como ‘um desprezado, golpeado por Deus e humilhado’, mas confiamos com fé absoluta que Ele é o Filho que Deus ama e em quem põe ‘todo o Seu agrado’. Jesus parece tão prejudicado na cruz que foi insultado pelos presentes que diziam: “Se és Filho de Deus, desce desta Cruz!”. Não era possível que se compreendesse que um abençoado por Deus estivesse em tal situação. Onde estaria a defesa de Deus? Onde Sua ‘justiça’? Como permitiria que um justo estivesse sendo condenado como um malfeitor e sob a dureza de um cruel sofrimento?... Também na Cruz, o Pai manifesta Seu amor por Jesus. Este amor se apresenta com feições muito particulares. O Pai ama o Filho e, unido ao Filho, unido à Sua imensa dor, ama o homem pecador a quem quer resgatar.

Dentre tantas coisas que Jesus veio realizar e nos ensinar, Ele nos mostrou que não há nenhuma realidade em que Deus não manifeste Seu amor e Sua bondade. Nenhuma! Se o sofrimento era uma marca de quem não era abençoado por Deus, Jesus nos abençoou justamente por Seu sofrimento. Se a Cruz era sinal de maldição, torna-se instrumento de salvação. Se a morte era o fim, torna-se o começo da vida eterna e verdadeira páscoa. Assim podemos compreender que a quem Deus ajuda, ou seja, quem se deixa ajudar por Deus, quem confia n’Ele e em Seus cuidados, faz a experiência de que nada pode prejudicá-lo. Não no sentido de que sobre esta pessoa não possam sobrevir sofrimentos, mas de que a confiança em Deus a faz compreender e experimentar que mesmo as maldades, as perdas, os sofrimentos estão marcados pela manifestação do amor de Deus.

Recentemente, um irmão comentou: “para mim, tudo dá certo!” e é conhecido de todos os grandes sofrimentos pelos quais ele passa. Ao ouvir esta afirmação, logo compreendi que esta experiência de que para ele tudo dá certo é fruto de uma confiança absoluta em Deus que transfigura seu olhar sobre as coisas. Por confiar em Deus e saber-se muito amado por Ele, não consegue enxergar em sua vida nada que não seja o bem. Aqui nós vemos o fruto de nos entregarmos inteiramente a Deus. Entregarmo-nos a Deus é o melhor negócio que podemos fazer na vida. Nada renderá maior lucro. Nossa visão sobre os acontecimentos e até sobre a nossa história pessoal é muito limitada. Vemos as coisas a partir de um único ponto de vista, enquanto Deus vê ‘de cima’ e tem uma visão panorâmica completa. Só Ele pode saber o tempo e o modo de intervir em nossa história.

Em nossa ansiedade, queremos que tudo se apresse; em nosso medo, queremos que tudo espere; mas só Ele sabe o tempo de nos livrar. Às vezes julgamos ter ideias muito boas e queremos sugerir ao Senhor que faça deste ou daquele jeito, outras vezes somos inseguros e queremos que os outros façam por nós o que deveríamos fazer, outras vezes ainda, movidos pelas paixões, nos tornamos cegos e agimos sem a devida prudência. Mas em tudo só Ele sabe o modo de agir para nos conduzir à Sua Santa Vontade. Portanto, é preciso saber calar e sofrer. Silenciar diante do mistério do amor de Deus que é real, mas muitas vezes incompreensível. Calar em um silêncio cheio de adoração. É preciso saber sofrer. Sofrer as demoras de Deus e Seus silêncios. Sofrer a dureza de Suas Palavras de amor que convidam à radical conversão. Saber sofrer amando a dor que a vida nos traz e estar dispostos a descobrir nela os traços da beleza de Deus.

Permitamos hoje que nosso Mestre nos ensine as lições que a Cruz tem a nos dar. Ele que ‘não levou em consideração o ser igual a Deus, mas humilhou-se obedecendo até a morte’, nos ensine o verdadeiro caminho da humildade e submissão à vontade do Pai.

Ludmila Rocha Dorella
Formadora Geral e consagrada
da Comunidade Árvore da Vida

FONTE: Jornal Online
Edição 1214 - 17 a 23 de setembro de 2012

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